Olá pessoal! Como estão?!
Que tal fazermos uma leve retrospectiva
do que já vimos aqui no blog: em nossa primeira publicação, falamos do veneno
das flechas, do curare, e na última publicação o assunto foi ayahuasca e seus
efeitos alucinógenos.
Nessa semana, algumas datas importantes
fizeram a nossa publicação ter um "algo mais". Primeiramente, estamos
na Semana do Índio (19/04, marco da realização do 1º Congresso
Indigenista Interamericano - http://www.museudoindio.gov.br/educativo/pesquisa-escolar/253-o-dia-19-de-abril-e-o-dia-do-indio)
e por fim, nessa semana nós, da Turma 01 MED PHB, tivemos a primeira aula de
Farmacologia, com o professor Elias. Em nossa aula, foram apresentadas algumas
noções introdutórias dessa área, e pudemos enfim pensar em substâncias com
potencial terapêutico, que suprissem necessidades do organismo, buscando
restabelecer equilíbrio. E isso tudo tem MUITO a ver com o tema do nosso post
de hoje, em que vamos falar sobre canabinóides, substancias psicoativas
presentes na Maconha/Cannabis (Opa, Maconha? Potencial terapêutico? Como
assim?).
A Canabis Sativa é original da Ásia, da
qual também é extraído o haxixe e o kif. E citada no Velho Testamento, cantada
e louvada por Salomão, que a chamava de kálamo (cânhamo). No Brasil era
utilizada pelos escravos africanos que conheciam suas propriedades. Sabe-se que
ela é de uso de muitas tribos por lá, mas principalmente os pigmeus e zulus
povos de Angola, Moçambique, Congo, etc., que a utilizavam ritualisticamente
como uma "planta sagrada". (*a)
Sabe-se que os índios brasileiros também
usam, principalmente na região de Maranhão e Sergipe. Era muito difundida entre
negros e caboclos que a chamavam também de fumo-de-caboclo. (*a)
Era utilizada para fins terapêuticos na
China, como anestésico; também por africanos e asiáticos para aliviar tosses,
dores de cabeça e cólica menstruais. Alguns pesquisadores afirmam que ela é
eficiente em casos de anorexia, glaucoma, enxaqueca, hipertensão, asma e
ataques cardíacos. Utilizada também pela medicina Ayurveda (*a).
Aqui nós podemos observar claramente a ligação entre o uso de uma
planta/substância por indígenas (na semana do Índio, rs) e seu potencial
terapêutico, testado cientificamente (na semana da primeira aula de
Farmacologia). Isso tudo é muito legal, e tal, mas o que nos importa são os
mecanismos bioquímicos pelos quais a Cannabis causa efeito. Então, vamos
começar.
Os principais canabinóides são o delta-9-tetraidrocanabinol
(chamado comumente de THC) e o tetraidrocanabivarin (THCV), porém ele aparece
apenas em minúsculas quantidades.

Adicionalmente, existem outros compostos
presentes na Cannabis que não oferecem qualquer efeito psicoativo, porém são
necessários para a funcionalidade do THC. São o Canabidiol (CBD, um isômero do
THC), Canabinol (CBN, um produto resultante da oxidação do THC), Canabivarin
(CBV, um equivalente do CBN), Canabidivarin (CBDV, um equivalente do CBD), e o
ácido canabidiólico. No entanto, a forma como essas substâncias interagem com o
THC ainda não foi totalmente esclarecida. (*b)
A maconha com uma maior proporção THC/CBD tem menor risco de causar
ansiedade do que a maconha com menor taxa entre THC/CBD. (*b)
Em 1990, a
descoberta dos receptores canabinóides localizados no cérebro e no corpo,
juntamente com a descoberta de neurotransmissores canabinóides endógenos
(fabricados pelo corpo) tais como a anadamida (Produzida pelo cérebro humano e
descoberta em 1992, a anandamida – também conhecida como “substância da
felicidade” – pode ter efeitos analgésicos, ansiolíticos e antidepressivos,
semelhantes aos do THC, componente da espécie vegetal cannabis sativa,
popularmente conhecida como maconha - https://www.ufmg.br/online/arquivos/016047.shtml
), sugeriu que o uso da cannabis afeta o cérebro da mesma maneira que as
reações químicas naturais que ocorrem nele. Os receptores canabinóides
diminuem a atividade da enzima adenilato ciclase, inibe os canais N de cálcio,
e desinibe os canais A dos íons de potássio. Existem dois tipos de receptores canabinóides (CB1 e CB2). (*b)

Em: https://www.pinterest.com/pin/215821007118579021/
O receptor CB1 é encontrado
primariamente no cérebro e controla os efeitos psicológicos do THC. O receptor
CB2 é mais abundantemente encontrado nas celúlas do sistema imunológico. Canabinóides agem como imunomoduladores nos
receptores CB2, significando que eles aumentam algumas respostas imunológicas e
diminuem outras. Por exemplo, os canabonóides não-psicotrópicos podem ser
usados como um potente antinflamatório. A afinidade dos canabinóides
para se vincularem aos receptores é a mesma, com uma pequena exceção observada
com o CBD derivado de plantas, que se vincula com os receptores CB2 com mais
frequência. Os canabinóides
provavelmente possuem um papel no controle do movimento e da memória no
cérebro, além da modulação natural da dor. Está claro que os canabinóides podem
afetar o mecanismo de transmissão da dor e, especificamente, estes canabinóides
interagem com o sistema endógeno opióide do cérebro e podem afetar a
transmissão de dopamina. Isso é uma importante descoberta
psicológica que poderá ajudar muito os meios de tratamento médico da dor. (*b)
Em 2007
verificou-se que o fumo do tabaco e da cannabis são um tanto similares, com o
fumo da cannabis contendo maiores quantidades de amônia, cianeto de hidrogênio
(acido cianídrico) e óxidos de nitrogênio, porém menores níveis dos
cancerígenos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs). O estudo encontrou
que o fumo direto da cannabis contem 20 vezes mais amônia e 5 vezes mais
cianeto de hidrogênio do que o fumo do tabaco, avaliando a fumaça da queima
direta (apenas utilizando fogo) e em um container (com invólucro: papel de seda
e similares). Constatou-se que a fumaça da cannabis com invólucro contém
maiores concentrações de HAPs do que a fumaça do tabaco também com invólucro. (*b) (clique no
link para acessar um resuminho sobre gases tóxicos: http://www.quimica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=242)
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Então, minha gente, eis o post! Conhecemos
melhor algumas substâncias importantes da Cannabis, utilizada por índios há
tempos, sua fórmula, efeitos... Gostaram? Estamos aceitando sugestões de temas,
hein?! Comente, não deixe de acompanhar o nosso blog. J J
Ótimo tema para discussão, Grupo J! Embora essa discussão seja muito mais antiga do que imaginamos já que a comunidade científica começou a estudar a maconha a sério em 1964. Mas sempre é importante deixar bem claro: o uso de drogas como maconha e outras substâncias alucinógenas ou psicotrópicas, sem orientação médica, é perigoso. A cannabis não cura o câncer ou a Aids, o que ela faz com eficiência é aliviar o sofrimento decorrente dessas doenças, incluindo esclerose múltipla e glaucoma. No caso da Aids, o efeito mais importante é o de estimular o apetite: pacientes de Aids perdem em média 4 quilos por mês e podem morrer de desnutrição. O desejo de comer vem com a ajuda do THC, citado na postagem. Claro, isso não significa que ela seja indispensável, mesmo porque há outros medicamentos disponíveis. A questão é: a cannabis funciona! O que precisamos é avaliar se e quando vale a pena usá-la. O uso terapêutico não é desmedido e tem poucas chances de viciar, mas é importante debater ainda sobre a questão de liberar o seu uso terapêutico já que a venda do cigarro autorizado será mais cara que o fumo já existente, pois será um produto de altíssima qualidade. Precisamos, assim, ver a questão da pirataria da cannabis: comprar um produto falsificado é um risco a saúde, mas é também uma opção para muitos que não poderão pagar pelo produto legalizado.
ResponderExcluirNossa, tema polêmico esse de vocês para a semana do índio, ein? Haha. Adorando as postagens! Fico no aguardo da próxima (:
Muito boa e polêmica a postagem, hein ?! hahaha
ResponderExcluirO uso da maconha é discutido a décadas, pois apesar de seu abuso causar prejuízos, as propriedades terapêuticas, importantíssimas, não podem ser descartadas.
O uso crônico da maconha provoca déficits de aprendizagem, diminuição
das habilidades mentais, especialmente da atenção e memória, diminuição da
capacidade motora e diminuição progressiva da motivação. Usuários freqüentes de
maconha têm prejuízos sensíveis em relação à concentração e memória de curto
prazo e tendem a desenvolver problemas com a memória recente, além de
poderem apresentar um prejuízo da capacidade de desempenhar tarefas com
etapas múltiplas. Há piora de distúrbios preexistentes, bronquites e infertilidade
(reduz a quantidade de testosterona, além de alterações de secreção de hormônios
sexuais que poderiam ser associadas à maior dificuldade de implantação embrionária).
Mas é válido lembrar que tudo isso é consequência do abuso, do uso crônico, frequente e sem orientação da maconha. Como o grupo G já disse em outro comentário, o uso terapêutico é de grande valia e merece ser respeitado e estudado ainda mais, visando uma maior aceitação e uma redução dos muitos preconceitos.
Aguardamos a próxima postagem.
GRUPO A
Referência:
http://scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462005000100003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Mais uma ótima postagem! A Canabis é uma planta conhecida e utilizada há milênios com fins ritualísticos e medicinais por diversos povos, e os indígenas figuram entre eles, como bem explicado na postagem. Os canabinoides já são utilizados com eficácia para tratar epilepsia de difícil controle (como as epilepsias refratárias e as chamadas epilepsias catastróficas tais como a síndrome de Dravet, de Rett e de Lennox-Gastaut). A dificuldade é a falta de estudos conclusivos sobre os efeitos colaterais e a medida da eficiência das substâncias ativas da Canabis sativa. Esta contém 489 constituintes conhecidos 70 dos quais são canabinoides, e o restante inclui substâncias que são potencialmente neuroativas e que são capazes de atravessar a barreira hemato-encefálica.
ResponderExcluirA despeito disso, tendo em vista as poucas alternativas e a eficácia notada, a ANVISA, desde do último dia 23, anunciou que facilitará a importação de medicamentos derivados da maconha.
Como vimos na aula de Farmacologia (inspiradora, realmente), "Todas as coisas são um veneno e nada existe sem veneno, apenas a dosagem é razão para que uma coisa não seja um veneno" (Theophrastus Bombastus von Hohenheim, conhecido como Paracelso). Mesmo os mais seguros medicamentos utilizados hoje possuem dosagem tóxicas. Devemos deixar de lado os preconceitos sobre a Canabis e, mediante estudos sérios e científicos, avaliar toda sua potencialidade terapêutica, juntamente com seus efeitos colaterais.
FONTES:
ANVISA. (http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/anvisa+portal/anvisa/sala+de+imprensa/menu+-+noticias+anos/2015/importacao+de+canabidiol+fica+mais+agil+para+pacientes)
Blog Viva com Epilepsia. (http://www.vivacomepilepsia.org/blog/?p=2414)
GRUPO I
ResponderExcluirHerói ou vilão? Além de não se ter uma certeza, a resposta para o uso dos canabinóides pode está distante, já que muito são os benefícios e malefícios que a literatura reporta sobre tais substancias. No entanto o Instituto de Terapia Canabinóide, Flórida EUA, defende o uso medicinal dessa sustância já que segundo estudos os canabinóide estimulam o sistema endocanabinóide. Esse por sua vez é, talvez, o sistema fisiológico mais importante envolvida no estabelecimento e na manutenção da saúde humana. Os endocanabinóides e seus receptores são encontrados em todo o corpo: no cérebro, órgãos, tecidos conectivos, glândulas e células do sistema imunológico. Em cada um dos tecidos, o sistema canabinóide executa tarefas diferentes, mas o objetivo é sempre o mesmo, a homeostase a manutenção de um ambiente interno estável, apesar das flutuações no ambiente externo. Os canabinóides promover a homeostase em todos os níveis da vida biológica, a partir da sub-celular , para o organismo e, talvez, para a comunidade e para além dela. Portanto, esse é um assunto polemico que deve ser tratado com cautela, já que pode-se tirar muitos proveitos, ou não, do uso de canabióides.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirInteressantíssimo... Além disso, a concentração de compostos psicoativos (canabinóides) na Cannabis é uma função de fatores genéticos e ambientais, mas outros fatores que causam variações no conteúdo psicoativo da planta devem ser considerados, tais como, o tempo de cultivo (maturação da planta) e tratamento da amostra (secagem, estocagem, extração e condições de análise). Nas últimas décadas, muitas descobertas importantes sobre a Cannabis foram realizadas, mas muitos mitos e incertezas ainda persistem. Uma parte bem arraigada do folclore sobre a Cannabis é que somente a planta fêmea fornece a resina ativa, mas as plantas (macho e fêmea) produzem, aproximadamente, as mesmas quantidades de canabinóides e possuem o mesmo grau de atividade. A convicção de que somente plantas fêmeas contêm a resina ativa foi atribuída, provavelmente, devido à prática agrícola de eliminar plantas-macho das plantações de Cannabis, a fim de prevenir a fertilização.
ResponderExcluirAté a próxima!
GRUPO E:
ResponderExcluirMuito boa a postagem. Para entender mais sobre o sistema canabinóide humano, é necessário falar sobre os sistemas GABA e Glutamato no cérebro. O primeiro é o sistema inibitório cerebral, responsável por situações de relaxamento, calma, entre outros processos. O segundo sistema é excitatório, responsável por situações de euforia. Assim, esse sistema modula as reações de ambos esses sistemas em sintonia, dependendo das respostas processadas. Dessa forma, o uso de substâncias extraídas da maconha pode interferir e modular esses sistemas. Sendo assim, nota-se, como a postagem mencionou, um possível potencial terapêutico dessas substâncias, com ações que podem variar de ansiolíticas até estimuladoras.