domingo, 14 de junho de 2015

Alimentação Indígena: Peixe




Olá, meu povo! Como estão? Espero que não estejam com fome, ou que aguentem até ler mais essa postagem deliciosíssima especialmente inspirada na cultura indígena, passando, é claro, pela Bioquímica.

Falaremos sobre a bioquímica da alimentação indígena, voltando nossa atenção para os peixes.

Peixes foram fisgados no Rio Parnaíba, na cidade de Uruçuí (Foto: Ana Paula) - http://xakumigo.blogspot.com.br/2014/11/pescadores-fisgam-pirarucu-de-100-kg-e.html

Tradicionalmente, dentre os diversos peixes que [os índios] comiam, podem ser citados a pescada, o mandubi, o mapará, o acará, o surubim, o tucunaré, as raias, o pirarucu, o peixe-boi, o pacu etc. Os crustáceos e moluscos também eram apreciados pelos aborígenes. (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentacao_cultura.pdf)

A composição lipídica dos peixes contrasta com a de mamíferos por conter elevada proporção de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa com cinco ou seis duplas ligações (mais de 40%), o que impacta tanto na saúde (atividade benéfica antitrombótica), quanto na tecnologia aplicada durante o processamento destes alimentos (rápida deterioração e rancificação). As proteínas contêm todos os aminoácidos essenciais para o ser humano e, assim como as proteínas do leite, do ovo e de carnes de mamíferos, têm elevado valor biológico. Adicionalmente, são excelentes fontes de aminoácidos lisina, metionina e cisteína, encontrados em baixa quantidade em dietas a base de grãos de cereais[1] (http://www.unicamp.br/nepa/arquivo_san/volume_19_2_2012/19-2_artigo-7.pdf)

Ainda sobre os ácidos graxos, ômega 3 e ômega 6, que não podem ser sintetizados pelos animais e humanos e devem ser supridos pela dieta (http://rca.cav.udesc.br/rca_2007_1/souza.pdf),  principais funções dos ácidos graxos estão o depósito de energia e a conformação das membranas celulares, sendo também precursores de substâncias, como as prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos (BELDA e CAMPOS, 1991; HARRIS, 1999; NEURINGER et al., 1986; LIN et al., 1993). O número e a posição das duplas ligações determinam as propriedades físicas e químicas dos PUFAs - Polyunsaturated Fatty Acids (trad: ácidos gordos poliinsaturados). As famílias n-6 e n-3 têm diferentes funções fisiológicas e atuam em conjunto para regular os processos biológicos (NEWTON, 1996). (ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/Suarez_mahecha.pdf)

Mulheres índias carregando o fruto de uma pescaria exitosa - http://gastropedinutri.blogspot.com.br/2014_12_01_archive.html

Aproveitando os temas das nossas últimas aulas, vamos falar dos lipídios :) como vimos, os peixes apresentam alta proporção de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa, com cinco ou seis ligações duplas em boa parte deles. Eles são derivados de hidrocarbonetos e suas propriedades físicas são principalmente determinadas pelo comprimento e pelo grau de insaturação da cadeia dos hidrocarbonetos.

Os ácidos graxos são a base para a formação dos triacilgliceróis, ou triglicérides, ou triglicerídios. Eles são compostos de três ácidos graxos, cada um em ligação ester com o mesmo glicerol. Essas substâncias armazenam energia, e existem duas vantagens em usá-los dessa forma em vez de glicogênio e amigo (lembram deles? rs): Primeiramente, como os átomos de carbono estão mais reduzidos do que os dos açucares, sua oxidação fornece mais do que o dobro em energia, grama por grama, que a oxidação dos açúcares. Segundamente (risos), como os triglicerídios são hidrofóbicos (portanto, não hidratados), o organismo que transporta gordura como combustível não deve suportar o peso extra da hidratação que está associada a polissacarídeos armazenados (2 gramas por grama de polissacarideo).

As gorduras naturais (como as do peixe) são, na maioria, misturas complexas de triglicerídios simples e mistos, que variam também nio comprimento da cadeia e no grau de saturação. Os insaturados, ou que apresentam pelo menos uma ligação dupla, são líquidos em temperatura ambiente. Já os insaturados são sólidos brancos e gordurosos em temperatura ambiente. As do peixe normalmente são poliinsaturadas, ou seja, apresentam tendência a ser líquidas, ou não tão sólidas rs, em temperatura ambiente. As gorduras saturadas, sem ligações duplas, apresentam arranjo mais compacto, por isso tem aspecto mais consistente.

http://www.isaudebahia.com.br/noticias/detalhe/noticia/afinal-oleos-e-gorduras-sao-prejudiciais-a-saude-ou-nao/


Bom, gente, começamos a discussão. E ai?! Como relacionar a vida do Índio (não apenas, mas de todos os que comem peixes) e a sua saúde à ingestão desses acidos graxos? Quais os benefícios de incluir esse alimento em nosso cardápio?

P.S.1: depois dessa postagem, quem ainda vai reclamar do Peixe do RU? Muito é bom (sdds RU! :'( )

P.S.2: Fica aqui o abraço da equipe, composta por Laísa, Mirelle e Anannandy (euzinha haha), na expectativa de continuarmos o blog no próximo semestre, ajudando a relacionar a Bioquímica aos nosso queridos Índios, suas lutas e cultura. Se Índio precisa saber de Bioquimica (como nós tentamos saber), não sabemos: o fato é que a Bioquímica explica muitas coisas!! E muitas delas, mesmo os leigos conseguem imaginar ;)

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Alimentação Indígena - Milho



        Olá pessoal! Tudo bem? Como estamos adentrando no mundo da alimentação indígena, hoje iremos falar mais sobre o MILHO (palmas, por favor rsrsrs). O milho, segundo estudos de Freyre (1980) e Cascudo (2004), foi o único cereal encontrado pelos europeus no Brasil, do qual os índios faziam farinhas, canjica, pamonha, pipoca e bebidas fermentadas. Os povos Tupi no Brasil valorizam muito o seu cultivo. Também os povos Jê do Brasil Central - como os Xavante e os chamados Kaiapó - têm sua agricultura fortemente baseada no cultivo de milho. Segundo Cascudo (2004), o povo brasileiro herdou do indígena o mingau, a pamonha, a canjica, a pipoca. Todos estes derivados do milho. Então, todos prontos pra mergulhar no mundo do milho? Aqui vamos nós...
     

http://www.midiaindependente.org/pt/red/2009/04/444720.shtml

        “Segundo uma lenda guarani, dois guerreiros, depois de terem procurado em vão caça, pesca, ou qualquer alimento para a família, foram avisados pelo grande espírito Nhandeiara que só uma luta mortal entre os dois traria a solução. O vencedor seria enterrado ali mesmo e da sua sepultura nasceria uma planta que alimentaria toda a tribo. Os dois lutaram e Avati foi derrotado e morto. Da sua cova nasceu o milho, avatino idioma tupi.” (FRNANDES, 2004, P.36). 

talentospedagogicos.blogspot.com

        O milho é uma gramínea pertencente à família Poacese e à espécie Zea mays L., sendo que todos os milhos existentes pertencem a essa única espécie. É uma das plantas com maior variabilidade genética, o que permitiu vários trabalhos de sucesso no melhoramento genético, com início por volta de 1930, resultando no que hoje é conhecido como milho híbrido.
       Muito energético, o milho traz em sua composição vitaminas A e do complexo B, proteínas, gorduras, carboidratos, cálcio, ferro, fósforo e amido. As cascas dos grãos são ricas em fibras. Cada 100 gramas do alimento tem cerca de 360 Kcal.
        Uma pesquisa feita na Universidade Estadual de Campinas revelou que o milho e seus derivados também são importantes para proteger contra doenças degenerativas oculares. Dentre os produtos analisados (milho in natura, milho cozido, milho enlatado, polentas frita e cozida, curau e pamonha) por cromatografia líquida de alta eficiência, o milho enlatado apresentou, em geral, os maiores teores de carotenóides (0,56 a 4,12 mg/g de luteína, 7,10 a 22,90 mg/g de zeaxantina, 0,60 a 4,90 mg/g de betacriptoxantina e 0,13 a 3,45 mg/g de betacaroteno). O milho in natura e o milho cozido, diferentemente dos outros produtos analisados, não apresentaram como carotenóide majoritário a zeaxantina e sim a luteína (3,37 a 5,29 g/g e 2,79 a 5,47 para milho in natura e cozido, respectivamente). A luteína e zeaxantina são carotenóides relacionados à proteção contra a catarata e a degeneração macular associada à idade.
http://mymadrid.me/page/news/zeaxantina
           E aí pessoal? O que acharam? Vamos comer mais milho ou não? Conta aí... Até a próxima!

REFERÊNCIAS:
Disponível em: <http://mindioescola.blogspot.com.br/2011/08/importancia-do-cultivo-do-milho-para-as.html>. Acesso em: 4 jun. 2015.
 Disponível em: <http://www.abimilho.com.br/milho/cereal>. Acesso em: 4 jun. 2015. 
Do milho à pamonha. Disponível em: <http://bdm.unb.br/bitstream/10483/207/1/2007_PotiraMorenaSouzaBenkoUru.pdf >. Acesso em: 4 jun. 2015.
NEWS.MED.BR, 2007. Milho: grão concentra luteína e zeaxantina, substâncias relacionadas à proteção contra catarata e degeneração macular. Disponível em: <http://www.news.med.br/p/medical-journal/10469/milho-grao-concentra-luteina-e-zeaxantina-substancias-relacionadas-a-protecao-contra-catarata-e-degeneracao-macular.htm>. Acesso em: 4 jun. 2015.
 

terça-feira, 2 de junho de 2015

Alimentação Indígena - Mandioca

         Olá pessoal! Tudo bem? Pois bem, como havíamos falado para vocês vamos conversar um pouco sobre a alimentação Indígena. Começaremos então com a Mandioca ou a Macaxeira ou o Aipim? Rsrs Começaremos falando da Mandioca que também é Macaxeira e também é Aipim.

        Há uma lenda que fala acerca da origem da Mandioca; essa lenda é contada muito bem nesse poema:

Nasceu num dia de sol
Uma índia mui gentil...
Era neta de um guerreiro
Da forte tribo Tupi.
O velho guerreiro da tribo
Desejou matar a filha
Que lhe dera tal netinha,
Por julgar ser estrangeiro
O pai dessa curumim.
Num sonho feliz, porém,
Escutou dizer-lhe alguém:
“se você hoje maldiz
a criança que nasceu
cedo vai se arrepender.
Foi Tupã que a enviou,
Deixe, pois, a mãe viver...”
Mani, assim se chamou
Aquela bela menina,
Que pouco tempo durou,
Pois Tupã, bem pequenina,
Para o céu logo a levou.
Foi enterrada na oca,
E uma planta viçosa
Na terra forte brotou,
Cresceu e frutificou.
Todos logo então buscaram
Naquela casa Tupi,
E no fundo encontraram
A raiz que tinha a forma
Do corpinho de Mani.
Julgaram os índios que a planta
Lhes desse força e vigor,
Comeram dela bastante
E exaltaram seu sabor.
E foi assim que aprendeu
O bravo povo Tupi
A fazer uso da planta
Que se chamou mandioca
Em memória de Mani.



         A Mandioca desde sempre esteve presente na alimentação indígena em diversas formas, como a Paçoca, diferentemente de como a conhecemos hoje, era produzida com carne e farinha de mandioca, pilando-se os ingredientes. Posteriormente tornou-se um doce, adaptado com castanhas de caju, amendoins e açúcar no lugar da carne. Com a mandioca ainda eram preparados a Tapioca (espécie de pão fino feito com fécula de mandioca), o Pirão (caldo grosso feito de farinha de mandioca e caldo de peixe) e o Beiju (espécie de bolo de formato enrolado feito com massa de farinha de mandioca fina). Para se fazer o Beiju, esse pão era umedecido, esfarinhado em panela circular e levado ao fogo. Era um alimento de toda hora, pois os índios não têm horários marcados para suas refeições. Comiam quando sentiam fome. Eles o ingeriam sozinho ou recheado com peixe cozido. O Mingau era feito desmanchando-se, com pancadas de um pedaço de pau, o pão seco em farinha. Esta era levada ao fogo, numa panela com água, e transformada num caldo que era ingerido durante o dia, em substituição à água.
         Ela tem diversos benefícios para a nossa saúde, tais como:
1.  Ajuda a manter os ossos saudáveis e a controlar os impulsos nervosos. O cálcio é um componente de destaque na mandioca. Além de cuidar da saúde dos ossos, evita o acúmulo de gordura dentro das células;
2. Possui carboidratos, tendo alto valor energético e não contém proteínas. Ela é rica em sais minerais, como o cálcio, ferro e fósforo. Além de possuir vitaminas do complexo B e grandes quantidades de potássio;
3. É uma excelente fonte de fibras vegetais, que ajudam no bom funcionamento do intestino. A vantagem da mandioca em ser rica em fibras, é porque faz com que o carboidrato seja transformado em energia aos poucos;
4. É rica em amido. Uma grande vantagem é que não possuem glúten, podendo ser consumida por pessoas portadoras de doenças celíacas (que tem intolerância ao glúten);
5. Além das funções nutricionais, a mandioca pode ser utilizada para o tratamento externo de artrite, edemas e abscessos;
6. O consumo dessa raiz também ajuda na produção de serotonina (neurotransmissor responsável pela sensação de bem estar) no nosso cérebro.  Qualquer alimento fonte de carboidrato tem esse poder de produção. Só que a mandioca é campeã, segundo o terapeuta americano John Gray, autor do livro A Dieta de Marte & Vênus (editora Rocco). Isso porque, além da alta concentração de carboidrato, as fibras (de novo, elas) ajudam a regular o funcionamento do intestino, onde boa parte da serotonina é produzida. E com esse neurotransmissor em alta, você fica mais resistente aos efeitos negativos do stress - um deles é aumentar a produção do cortisol, hormônio que faz o corpo estocar gordura na barriga.

        E aí? Gostaram? Conta aí... Até a próxima!!

Fontes:
Alimentação e cultura. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentacao_cultura.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2015.
O descobrimento da Gastronomia Indígena. Disponível em: <http://www.gruponaturaldaterra.com.br/index.php/o-descobrimento-da-gastronomia-indigena/>. Acesso em: 02 jun. 2015.
Os benefícios da mandioca para a saúde. Disponível em: <http://www.mundodastribos.com/os-beneficios-da-mandioca-para-a-saude.html>. Acesso em: 02 jun. 2015.


terça-feira, 19 de maio de 2015

Alimentação Indígena.

Olá pessoal!! Como estão? Como foi a semana de vocês? Pois bem, durante as primeiras seis postagens falamos um pouco sobre os rituais indígenas e agora iremos focar na culinária dos índios.
Que tal se a janta hoje for quinhapira de tucunaré e a sobremesa doce de cubiu? Não sabem que pratos são esses? Pois eis aí dois tipos de comida preparados por povos indígenas da região do Alto Rio Negro, que fica no Amazonas. Mais do que fonte de energia, os alimentos são parte da sua cultura. Então vamos conhecer melhor a sua culinária?!
Em geral, os índios têm uma alimentação variada e equilibrada. A carne é a sua principal fonte de proteínas. Os indígena do Alto Rio Negro, por exemplo, costumam caçar a paca, a capivara e o caititu – animal conhecido também como porco-do-mato -, além de macacos e aves como o mutum. Já os xavantes, que vivem no centro-oeste brasileiro, em pleno cerrado, apreciam bastante a ema e outras animais desse bioma. “A alimentação depende do ambiente onde o índio se encontra, e é por isso que povos indígenas diferentes possuem técnicas de caça e pesca diferentes”, explica a médica e antropóloga Luiza Garnela, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz.
Faz parte ainda da alimentação indígena uma raiz que você deve conhecer: a mandioca! Ela pode ser consumida na forma de farinha ou como o principal ingrediente de uma receita pra lá de especial: o beiju! Massa feita de mandioca, geralmente servida em forma de disco, como acompanhamento das refeições.
Na alimentação indígena também não faltam pimentas e frutas. Além de servir de tempero para diversos pratos, a pimenta é uma importante fonte de vitaminas e fibras para os índios. Como ela, as frutas também têm destaque na alimentação. No Alto Rio Negro, as mais consumidas são o açaí, o patuá, a pupunha, a bacaba, a banana, o abacaxi e outras frutas típicas da Amazônia.
 Muito importante também era o caju, fruta brasileiríssima, que além de ser ingerido in natura, serve para fazer suco, doce, vinho, licor, farinha e bolo com as suas castanhas. Segundo Orlando Parahym (1970, p. 67) havia guerras violentas entre os cariris e os tapuias para se apoderarem dos cajueiros existentes em áreas litorâneas. Ao vencedor... os cajus.
Isso nos mostra um pouco o quão variada e saudável é a alimentação dos índios. Mas vale lembrar que, muitos desses costumes estão sendo perdidos hoje, principalmente pelos índios que têm mais contato com a área urbana.

E ai? Gostaram? Até a próxima.


Referências:
GASPAR, Lúcia. Índios do Brasil: alimentação e culinária. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Acesso em: dia mês ano.
PARAHYM, Orlando da Cunha. Antropologia e alimentação. Recife: Secretaria de Estado de Educação e Cultura, Departamento de Cultura, 1970.
LEITE, Maurício Soares. Comidas Tradicionais Indígenas do Alto Rio Negro. Cad.Saúde Pública , Rio de Janeiro, 26 v., n. 3, p. 637-638, março 2010. Acesso em:

terça-feira, 12 de maio de 2015

Bioquímica dos Rituais Indígenas: Pintura Corporal

Olá, gente boa! Hoje vamos começar a tratar do nosso tema dessa semana fazendo uma perguntinha simples: o que te caracteriza?

Pensou? 

Melhor pensar outra vez.

Ok, sem mais. Nossa roupa, a forma como andamos, falamos, gesticulamos, todas essas coisas nos caracterizam de alguma forma. Cortes de cabelo, maquiagens, adereços... Pinturas corporais também! Dependendo do momento de vida em que estamos, as coisas que usamos para nos marcar dizem muito sobre quem somos e o que fazemos em um determinado momento (leia-se, por exemplo, a nossa blusa do curso, hehehe).

Mas voltando a atenção, e buscando relacionar esse tema de identificação com a bioquímica, e mais do que isso, com os índios, hoje trataremos de pinturas corporais. Já falamos de alucinógenos, de curare, e de tantas outras coisas interessantes que dizem respeito a rituais indígenas. Seguindo na mesma linha de raciocínio, trazemos para a discussão as tinturas indígenas. Fala a verdade: quando te pedem pra pensar em um índio, e desenhá-lo, provavelmente você o faria com marcações no corpo, não é?

http://arteindigenaa.blogspot.com.br/2009/10/pintura-corporal-indigena.html

(recomendo que acessem, caso tenham interesse, o blog: http://blog-do-netuno.blogspot.com.br/2010/09/pinturas-indigenas-e-seus-significados.html )

"Nas sociedades indígenas, até hoje, a pintura corporal tem grande importância e seu significado é muito amplo, podendo ir da simples expressão de beleza e erotismo à indicação de preparação para a guerra, ou, até mesmo, como uma das formas de aplacar a ira dos demônios. Além de protegerem o corpo dos raios solares e das picadas de insetos, a ornamentação corporal é como se fosse uma segunda "pele" do indivíduo: a social em substituição à biológica. O padrão da pintura e sua localização no corpo revela o "status" de seu detentor na sociedade. (...)

(...) Pero Vaz de Caminha, em sua famosa carta do rei D. Manoel I, já falava de uns 'pequenos ouriços que os índios traziam nas mãos e da nudeza colorida das índias. Traziam alguns deles ouriços verdes, de árvores, que na cor, quase queriam parecer de castanheiros; apenas que eram mais e mais pequenos. E os mesmos eram cheios de grãos vermelhos, que, esmagados entre os dedos, faziam tintura muito vermelha, da que eles andavam tintos; e quando mais se molhavam, mais vermelhos ficavam'".

Esses ouriços nada mais eram do que a bixácea - Bixa orellana - conhecida como urucu, palavra de origem tupi que significa vermelho. A tintura dos indígenas era feira com as sementes, cujo principal corante é o norcarotenoide bixina, o primeiro cis-polieno a ser reconhecido na natureza. As sementes são raladas em peneiras finas e fervidas em água  para formar uma pasta, com a qual são feitas bolas que são envolvidas em folhas, e guardadas durant todo o ano para as cerimônias de tatuagem.

O outro corante muito usado pelos indígenas era obtido da seiva do fruto do jenipapo. As tatuagens de cores pretas, feitas com essa rubiácea, cujo nome botânico é Genipa americana, deve-se ao iridóide conhecido como genipina. Incolor em si, este iridoide produz cor preta após reagir com as proteínas da pele.



Fica a dica então, pra vocês: como ocorre a reação dos corantes com a pele? eEque características da fórmula dessas substâncias são responsáveis pela sua duração prolongada na pele?

Abraços, e até a próxima!

Referência: disponível em http://www.i-flora.iq.ufrj.br/hist_interessantes/corantes.pdf

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Bioquímica dos Rituais Indígenas: chá da Jurema



           Olá pessoal! Como estão? Como foi a semana de vocês? Todos prontos para embarcar em mais uma viagem através da bioquímica dos rituais indígenas? Hoje vamos conhecer mais sobre um chá muito utilizado por indígenas do nordeste do Brasil o “chá da Jurema”. A jurema (Mimosa tenuiflora) é um arbusto muito comum no nordeste do Brasil. De suas raízes se faz uma bebida psicoativa que é usada nos rituais dos Truká (a partir da Ilha de Assunção, em Cabrobó, Pernambuco), os Kambiwá (de Ibimirim, Inajá e Floresta, Estado de Pernambuco), os Pankararu (Brejo dos Padres - Tacaratu, Jatobá e Petrolândia, Pernambuco), os Atikum (Serra do Umã, sertão de Pernambuco) e os Kambiwá
http://azarius.pt/images/resize/large/mimosa-hostilis-premium.jpg
           Esse chá também é conhecido como "vinho da jurema", ou "ajucá", e ele é utilizado como uma espécie de "bebida milagrosa". Seu princípio ativo é um alcalóide N,N-dimetiltriptamina (DMT) e por isso essa planta é considerada um enteógeno (o emprego dessa palavra é relativo à alteração da consciência quando da ingestão de certas substâncias encontradas na natureza). No estado de transe pelo uso do chá da Jurema os participantes dizem romper as barreiras entre passado, presente e futuro numa comunhão com seus ancestrais e suas divindades.
http://www.scielo.br/img/revistas/babt/v51n5/a10fig01.gif


     Dois alcalóides foram isolados a partir da "jurema": 5-hidroxi-triptamina, e N,N-dimetyltryptamine (Meckes-Lozoya et al, 1990a.). Outros estudos demonstraram a presença de duas calconas: o kukulkan A (2 ', 4'-di-hidroxi-3', 4-dimetoxychalcone); e o kukulkan B (2 ', 4', 4-tri-hidroxi-3'-metoxychalcone) (Camargo-Ricalde, 2000).
O efeito alucinogéno que acompanha o uso de "jurema" é semelhante ao do LSD-25, mas, aparentemente, mais rápido e de menor duração. Midríase e hipertensão arterial são notavelmente intensas (Corbett, 1977). Os efeitos psíquicos foram descritos por Matos (1983) como: "(...) Ansiedade, tonturas, ‘cabeça oca' ou leveza, ‘ondas’ de cócegas que passam pelos músculos. Em seguida, há um estado de' sonhar acordado ', com visão opaca e cores muito fortes e uma nitidez visual aparente. As alucinações seguem, juntamente com um ambiente visual acentuada; a percepção torna-se muito distorcida e pode haver delírio".
         Estudos farmacológicos demonstraram que os efeitos alucinogénios da N,N-dimetyltryptamine, quando administrados por via oral, foram inibidos pela ação das monoamino-oxidases (MAO), enzimas insolúveis encontrados na mitocôndria (Corbett, 1977) que catalisaram a remoção de um grupo amino alcalóide (Craig e Stitzel, 1986). Para os efeitos alucinógenos ocorrerem, também é necessário ingerir substâncias que contenham inibidores de MAO (tais como β-carbolinas), o que irá então permitir a acção da N,N-dimetyltryptamine (Schultes e Hofmann, 1980). Estes fenômenos podem ser explicados pelo fato das β-carbolinas terem sido encontradas na Mimosa tenuiflora (Meckes -Lozoya et al., 1990a). A presença destas substâncias pode resultar na inibição da MAO, o que pode levar a um aumento na quantidade de catecolaminas no sistema nervoso central, provocando os efeitos eufóricos (Corbett, 1977).
        E aí pessoal? O que acharam? Conta aí... Até a próxima!

REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Marcos Alexandre dos Santos. O dom e a tradição indígena Kapinawá (ensaio sobre uma noção nativa de autoria). Relig. soc.,  Rio de Janeiro ,  v. 28, n. 2, p. 56-79,   2008 .
O ritual do Ouricuri e a dança do Toré. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kariri-xoko/680>. Acesso em 04 Mai. 2015.
SOUZA, Rafael Sampaio Octaviano de et al . Jurema-Preta (Mimosa tenuiflora [Willd.] Poir.): a review of its traditional use, phytochemistry and pharmacology. Braz. arch. biol. technol.,  Curitiba,  v. 51, n. 5, p. 937-947, Oct.  2008 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-89132008000500010&lng=en&nrm=iso>.Acesso em  04  Mai.  2015.  http://dx.doi.org/10.1590/S1516-89132008000500010.