Olá, meu povo! Como estão? Espero que não estejam com fome, ou que aguentem até ler mais essa postagem deliciosíssima especialmente inspirada na cultura indígena, passando, é claro, pela Bioquímica.
Falaremos sobre a bioquímica da alimentação indígena, voltando nossa atenção para os peixes.

Peixes foram fisgados no Rio Parnaíba, na cidade de Uruçuí (Foto: Ana Paula) - http://xakumigo.blogspot.com.br/2014/11/pescadores-fisgam-pirarucu-de-100-kg-e.html
Tradicionalmente, dentre os diversos peixes que [os índios] comiam, podem ser citados a pescada, o mandubi, o mapará, o acará, o surubim, o tucunaré, as raias, o pirarucu, o peixe-boi, o pacu etc. Os crustáceos e moluscos também eram apreciados pelos aborígenes. (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentacao_cultura.pdf)
A composição lipídica dos peixes contrasta com a de mamíferos por conter elevada proporção de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa com cinco ou seis duplas ligações (mais de 40%), o que impacta tanto na saúde (atividade benéfica antitrombótica), quanto na tecnologia aplicada durante o processamento destes alimentos (rápida deterioração e rancificação). As proteínas contêm todos os aminoácidos essenciais para o ser humano e, assim como as proteínas do leite, do ovo e de carnes de mamíferos, têm elevado valor biológico. Adicionalmente, são excelentes fontes de aminoácidos lisina, metionina e cisteína, encontrados em baixa quantidade em dietas a base de grãos de cereais[1] (http://www.unicamp.br/nepa/arquivo_san/volume_19_2_2012/19-2_artigo-7.pdf)
Ainda sobre os ácidos graxos, ômega 3 e ômega 6, que não podem ser sintetizados pelos animais e humanos e devem ser supridos pela dieta (http://rca.cav.udesc.br/rca_2007_1/souza.pdf), principais funções dos ácidos graxos estão o depósito de energia e a conformação das membranas celulares, sendo também precursores de substâncias, como as prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos (BELDA e CAMPOS, 1991; HARRIS, 1999; NEURINGER et al., 1986; LIN et al., 1993). O número e a posição das duplas ligações determinam as propriedades físicas e químicas dos PUFAs - Polyunsaturated Fatty Acids (trad: ácidos gordos poliinsaturados). As famílias n-6 e n-3 têm diferentes funções fisiológicas e atuam em conjunto para regular os processos biológicos (NEWTON, 1996). (ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/Suarez_mahecha.pdf)

Mulheres índias carregando o fruto de uma pescaria exitosa - http://gastropedinutri.blogspot.com.br/2014_12_01_archive.html
Aproveitando os temas das nossas últimas aulas, vamos falar dos lipídios :) como vimos, os peixes apresentam alta proporção de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa, com cinco ou seis ligações duplas em boa parte deles. Eles são derivados de hidrocarbonetos e suas propriedades físicas são principalmente determinadas pelo comprimento e pelo grau de insaturação da cadeia dos hidrocarbonetos.
Os ácidos graxos são a base para a formação dos triacilgliceróis, ou triglicérides, ou triglicerídios. Eles são compostos de três ácidos graxos, cada um em ligação ester com o mesmo glicerol. Essas substâncias armazenam energia, e existem duas vantagens em usá-los dessa forma em vez de glicogênio e amigo (lembram deles? rs): Primeiramente, como os átomos de carbono estão mais reduzidos do que os dos açucares, sua oxidação fornece mais do que o dobro em energia, grama por grama, que a oxidação dos açúcares. Segundamente (risos), como os triglicerídios são hidrofóbicos (portanto, não hidratados), o organismo que transporta gordura como combustível não deve suportar o peso extra da hidratação que está associada a polissacarídeos armazenados (2 gramas por grama de polissacarideo).
As gorduras naturais (como as do peixe) são, na maioria, misturas complexas de triglicerídios simples e mistos, que variam também nio comprimento da cadeia e no grau de saturação. Os insaturados, ou que apresentam pelo menos uma ligação dupla, são líquidos em temperatura ambiente. Já os insaturados são sólidos brancos e gordurosos em temperatura ambiente. As do peixe normalmente são poliinsaturadas, ou seja, apresentam tendência a ser líquidas, ou não tão sólidas rs, em temperatura ambiente. As gorduras saturadas, sem ligações duplas, apresentam arranjo mais compacto, por isso tem aspecto mais consistente.

http://www.isaudebahia.com.br/noticias/detalhe/noticia/afinal-oleos-e-gorduras-sao-prejudiciais-a-saude-ou-nao/
Bom, gente, começamos a discussão. E ai?! Como relacionar a vida do Índio (não apenas, mas de todos os que comem peixes) e a sua saúde à ingestão desses acidos graxos? Quais os benefícios de incluir esse alimento em nosso cardápio?
P.S.1: depois dessa postagem, quem ainda vai reclamar do Peixe do RU? Muito é bom (sdds RU! :'( )
P.S.2: Fica aqui o abraço da equipe, composta por Laísa, Mirelle e Anannandy (euzinha haha), na expectativa de continuarmos o blog no próximo semestre, ajudando a relacionar a Bioquímica aos nosso queridos Índios, suas lutas e cultura. Se Índio precisa saber de Bioquimica (como nós tentamos saber), não sabemos: o fato é que a Bioquímica explica muitas coisas!! E muitas delas, mesmo os leigos conseguem imaginar ;)